sábado, 5 de julho de 2008

Miséria, risos e revolta

[Leia esse post ouvindo: Retrato de um Playboy - Gabriel, O Pensador]


Aula de geografia. Para diversificar o professor passa um documentário sobre globalização. No filme, é mostrado o lado mais cruel e perverso desse fenômeno: a desigualdade social gritante, as pessoas passando fome na África, Ásia e América Latina, as muralhas construídas para impedir a entrada de imigrantes...


Num certo momento do filme aparece uma entrevista com um homem sem teto. A fala dele: "Diz que a gente vale o que tem na bolso. Agora eu posso falar que não valho nada, porque não tenho nem um centavo."


Pausa.


Imaginem qual foi a reação de meus inteligentes e socialmente responsáveis coleguinhas de classe? Os FILHOS DA PUTA começaram a rir. Eu devo ser um completo idiota mesmo. Fui um dos únicos que não entendeu a "piada". Uma pessoa alega que não tem nada, nem o suficiente para a sobrevivência e os camaradas riem. Mais triste do que não ter nada, é a pessoa se sentir um nada. Perceber que a vida humana, algo de valor inestimável, foi tida como algo inútil foi um "chute no saco" pra mim. [Para meus colegas essa constatação pareceu divertida...]


Ao ouvir a declaração do homem fui tomado por uma sensação de impotência. Assim como ele, milhões de pessoas não tem nada. Uma casa para morar, uma cama para descansar, algo para comer. É óbvio que eu posso fazer algo por essas pessoas. Mas o que eu realmente faço? Sempre reclamando da falta de tempo, sempre fechado no meu mundinho reclamando de tudo e todos, incapaz de olhar para o lado e reconhecer que tem um ser humano ali, precisando da minha ajuda.


Num segundo momento, fui tomado por uma raiva incontrolável. [Raiva que continuo sentindo enquanto escrevo este post.] A pessoa naquela situação miserável e os filhinhos de papai, que nunca sentiram [e provavelmente nunca sentirão] um drama parecido, rindo da situação. A minha vontade foi de bater em cada um. De ter o poder de colocá-los apenas por um dia, na mesma situação daquele cidadão para ver quantas risadas eles dariam se não tivessem o que comer nem onde dormir.


Ver a situação deplorável de diversos seres humanos apresentados no documentário, foi algo muito triste. Pior ainda foi perceber que, ao ver a terrível situação em que se encontravam essas pessoas, a única coisa que meus colegas fizeram foi rir.


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